Voltar18/06/2011Folha de S. PauloInovações demandarão aumento da produção de cana
MARCOS FAVA NEVES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um dos painéis do 3º Ethanol Summit, encontro internacional sobre etanol organizado pela Unica, tratou das novas tecnologias que trarão aumento do uso dessa planta em diferentes mercados. Duas empresas vindas dos Estados Unidos mostraram tecnologias que transformam açúcar em combustíveis renováveis, moléculas idênticas aos hidrocarbonetos de petróleo. Isso envolve o diesel de cana, querosene de aviação, gasolina e também todos os tipos de plásticos, solventes, lubrificantes, cosméticos, surfactantes, inclusive produtos medicinais.
É assustador pensar que os motores atuais de caminhões, ônibus, aviões, carros podem rodar com um combustível vindo da cana, pois são mercados de tamanhos impressionantes.
Foi apresentada também termelétrica com turbinas convertidas para usar etanol em vez do gás, com resultados interessantes e motogeradores (motores de combustão interna com alto desempenho) movidos a etanol, possibilitando que a energia elétrica seja gerada localmente nas comunidades, evitando a construção de grandes linhões de transmissão.
É uma tecnologia de grande impacto para países pobres e em desenvolvimento. Não bastasse a dificuldade em abastecer o mercado interno de etanol hidratado, ainda aparecem todos esses novos usos para a cana, o que demandará grande aumento de produção.
A boa notícia é que existe potencial na planta para aumentar a produtividade. Acredita-se que, em dez anos, a cana possa duplicar a produtividade, assim dividida: ganho de 15% a 25% com melhoria dos agroquímicos (melhor controle de insetos, ervas daninhas e fungos), 10% a 20% com germoplasma, melhorias no plantio, colheita e em processos, 20% a 50% com biotecnologia, modificação genética, etc.
Finalmente, usando essas soluções de maneira integrada, consegue-se ainda potencializar essa produtividade, fora a irrigação e outras inovações que vêm por aí. Isso será fundamental para que toda essa cana seja produzida de maneira sustentável e usando menos áreas que as utilizadas com a produtividade atual. Essas novas áreas para produzir cana sobram no Brasil, e virão principalmente da liberação de áreas de pastagens.
Há dez anos o setor passava por uma crise de identidade, com preços do petróleo baixos, excesso de produção de açúcar resultando numa indústria que perdia valor e tinha imagem altamente desgastada. O setor chegava a solicitar que ao menos a frota pública usasse etanol.
Hoje o mundo despeja bilhões de dólares em pesquisa para ver o que pode ser feito com a planta e seus produtos. É incrível a virada que aconteceu nessa cadeia e será curioso ver como serão os próximos dez anos, com essa quantidade de produtos de enormes mercados que serão feitos a partir da cana.
Depoimentos de executivos estrangeiros no evento mostram que talvez a cana seja hoje um dos poucos negócios onde o Brasil é admirado mundialmente e com grande potencial de desenvolvimento e geração de renda para nossa sociedade.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento na FEA/USP (Campus Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.